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História

As origens mais remotas da vila de Alcanede não são evidentes. Sabe-se que a região da Serra da Mendiga teve ocupação humana desde o Paleolítico Superior, por via dos vários achados encontrados na zona. No entanto, a fixação humana no lugar onde hoje se erige Alcanede parece ser bem mais recente. Atualmente, está posta de lado a hipotética fundação romana da vila em 150 a. C. com funções militares. Por outro lado, segundo investigações recentes, o lugar que hoje é Alcanede ficaria numa via de comunicação secundária entre Santarém e a Serra da Mendiga. Na verdade, a origem, ainda pouco clara, do topónimo “Alcanede” poderá estar a associada ao termo árabe para ”as pontes”, designando então várias pontes de construção ancestral cujos vestígios ainda subsistem. Todavia, a tradição etimológica dos séculos anteriores, fazia derivar o termo Alcanede da palavra árabe para “sombrio” ou da romanização de “cannit”, antropónimo de algum proprietário da zona.

Ficou cristalizada na tradição a fundação da vila por D. Afonso Henriques. Nesse sentido, a própria edificação do Castelo de Alcanede parece ter resultado da estratégia de povoamento e de defesa do reino levada a cabo pelo nosso primeiro monarca. Afonso Henriques encarrega Gonçalo de Sousa de povoar Alcanede, entregando um pouco mais tarde a jurisdição eclesiástica aos monges de Santa Cruz de Coimbra. A data efetiva da fundação da vila poderá, inclusivamente, ser anterior a 1163, ano consagrado em diversas fontes. Ainda no contexto político da Reconquista, já em 1218, D. Sancho I fez a doação do Castelo de Alcanede à Ordem de Avis, a qual em reinados posteriores receberia também a jurisdição eclesiástica da vila.

A vila foi florescendo durante a Idade Média, tendo sido realizados melhoramentos no Castelo durante o reinado de D. Fernando. Nestes tempos medievais, a população de Alcanede esteve sujeita à obrigação de pagar um jantar ao Rei, privilégio que a partir do século XV os monarcas foram concedendo a particulares como “mercê real”. (...) Ficou gravada na memória dos povos a passagem por Alcanede do cortejo fúnebre de D. João II, em 1499, cujo corpo permaneceu na Igreja Matriz, de onde seguiu para São Jorge da Vitória, pela serra da Mendiga, na viagem entre Silves e o Mosteiro da Batalha (de acordo com Garcia de Resende. (...)

É pouco provável a existência dos forais medievais de D. Afonso Henriques (1163) e de D. Afonso IV (1333), hipoteticamente, dados a esta vila, segundo alguns autores. Porém, tudo indica que, já nesse último reinado, os procuradores de Alcanede tenham tomando assento nas Cortes realizadas em Santarém, sendo comum a participação dos mesmos pelo menos até 1482. Essa prerrogativa de participação em cortes, assim como outros privilégios e obrigações do concelho deveriam ser objeto costumes ou de outras disposições legais, na ausência de foral. O Foral foi efetivamente concedido a Alcanede por D. Manuel I, dado em conjunto à vila de Pernes (a qual até 1598 fazia parte da mesma unidade territorial), a 22 de Dezembro de 1514, no contexto da reforma manuelina dos forais. Conhecem-se as três cópias do documento: a “cópia da vila”, hoje à guarda da Biblioteca Municipal de Santarém; a “cópia do Rei”, trasladada na “Leitura Nova”; e a “cópia do senhorio”, guardada no fundo documental da Ordem de Avis, sendo que estes dois documentos estão na Torre do Tombo.

A Igreja Matriz de Alcanede será sem dúvida, juntamente com o Castelo e com a Capela da Misericórdia, um dos esteios do património edificado da vila. De fundação medieval, o templo foi reformado e no século XVII devendo, fundamentalmente, a esse período o seu aspecto a atual. Muito provavelmente, em 1601 foi fundada a Irmandade do Espírito Santo da qual origina a atual Santa Casa da Misericórdia de Alcanede. O templo, originalmente maneirista, foi reformulado durante o século XVIII. Também no período filipino, muito brevemente, institui-se o Condado de Alcanede, com entrega do título a D. Francisco de Luís de Lencastre, situação que nunca viria a ser legitimada pelos monarcas portugueses depois da Restauração. Nessa época, por influência do jesuíta Pedro Jusarte, Padre António Vieira visitou brevemente Alcanede, estando na vila entre Julho e Agosto de 1679, onde chegou a escrever pelo menos três cartas.

No início do século XVIII, o erudito Simão Froes de Lemos escreveu a sua Notícia Histórico Topográfica da vila de Alcanede (…), essa primeira “história de Alcanede” trata-se de um documento fundamental que salvaguardou diversas fontes essenciais para a memória local. De facto, no século subsequente as Invasões Francesas devastaram a região, destruindo recursos diversas, mas também preciosas fontes históricas. Em Fevereiro de 1811 deu-se o “Combate de Alcanede”, um dos confrontos finais do exército anglo-luso com as tropas da terceira invasão, que já procuravam linhas de retirada.

Como sabemos o fim das invasões trouxe uma paz efémera ao país, porém não há registos de combates em Alcanede durantes a lutas que antecederam a instauração do liberalismo. O novo regime reformou praticamente todas as instituições. Foram criados novos municípios com uma clara uniformidade administrativa. O concelho de Alcanede, criado a 16 de Maio de 1832, integrava, para além da sede, as freguesias de Abrã, de Alcobertas, das Fráguas e de Tremês. Esse município acabou por ser extinto a 24 de Outubro de 1855 e integrado quase totalmente no concelho de Santarém, curiosamente a última ata da Câmara de Alcanede data de Dezembro de ano.

A atual freguesia de Alcanede engloba uma multiplicidade de aldeias e de lugares para além da sede, ainda que grande parte dos antigos termo e concelho de Alcanede hoje esteja integrada noutras freguesias ou municípios. De qualquer forma, Alcanede é maior freguesia do concelho de Santarém fora da cidade, tanto em extensão como em número de habitantes, mantendo uma dinâmica vida económica e uma sociabilidade muito própria.

 

Escrito por Dr. José Raimundo Noras

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Freguesia de Alcanede
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